Migração
Emigração
Sírios e Libaneses
Problemas que o autor coloca:
1- Por que deixaram os sírios-libaneses seus respectivos
países pelo Brasil?
2- Por que se concentraram na cidade de São Paulo?
3- Quais as características demográficas dos imigrantes
sírios-libaneses?
4- Por que se estabeleceram de início num certo bairro e
por que se transferiram dessa para outras partes da cidade?
Na segunda metade do século XIX e nos primeiros 30 anos
do século XX houve uma verdadeira diáspora de sírios
e libaneses, na maioria cristãos, para a África, Europa,
Américas, Austrália, etc. Este movimento emigratório
afetou praticamente todas as cidades e aldeias do Líbano
e num grau inferior, da Síria. Não se sabe o número
exato dos emigrados mas sabe-se que os cristãos eram maioria. |
Causas da Emigração
Os principais motivos da emigração foram forças
político-religiosas, econômicas e mistas. Primeiramente
deve-se estudar as forças político-religiosas.
Fatores Políticos:
Antes do século XIX, os cristãos de todas as doutrinas
ocupavam uma posição social e política inferior
no império Otomano. Estavam sujeitos a muitas restrições
e cobranças de impostos. Viviam, geralmente, em pequenos
grupos concentrados nas cidades maiores, exceto os maronitas que
viviam reunidos nas montanhas do norte do Líbano, formando
aí uma grande população rural e mantendo uma
independência limitada sob uma direção leiga
e clerical, recusada aos demais grupos cristãos em 1831.
Somente com Ibrahim paxá (filho de Muhammad Ali paxá,
o modernizador do Egito), é que os cristãos se libertaram
dos pesados encargos de que eram vitímas. A administração
forte e moderna de Ibrahim paxá, aliada às concessões
aos cristãos, como a tolerância religiosa , e aos limites
impostos aos nobres locais, acabaram por conduzir o país
a um ciclo de rebeliões e massacre mútuos, entre drusos
e maronitas. Durante muitos anos lavradores espalharam-se para
o sul, em território druso, substituindo lavradores locais.
Tanto os proprietários drusos como os cristãos preferiam
os maronitas devido às suas técnicas agrícolas
superiores. Os drusos que foram forçados a abandonar as montanhas
do Líbano emigraram para o Hauran, na Síria.
A relativa igualdade estabelecida entre cristãos, drusos
e muçulmanos - que destruiu o regime feudal - e o fomento
das obras missionárias protestantes levou os cristãos
locais a um contato mais íntimo com o Ocidente e indiretamente
estimulou as correntes migratórias para terras cristãs.
Depois dos massacres de 1860 ocorrido no Líbano, os cristãos
iniciaram as emigrações que levaram milhares para
fora da Síria e do Líbano. Em comparação,
poucos muçulmanos e drusos emigraram.
Outra influência a considerar quanto à emigração
foi a questão do alistamento militar obrigatório aos
cristãos depois de 1909, devido às dificuldades militares
e políticas do Império Otomano. O rude tratamento
imposto nos alistamentos cristãos pelos soldados e oficiais
maometanos determinou a emigração de milhares de cristãos
para fugir do serviço militar.
Com o início da 1ª Guerra Mundial, a emigração
da Síria e do Líbano cessou. No fim da guerra, os
povos desses países devastados esperaram para ver o que o
futuro lhes traria. Quando descobriram que a independência
lhes seria recusada, recomeçaram a emigrar em grandes levas.
Fatores Econômicos:
O século XIX na Síria e Líbano foi de declínio
econômico e miséria. Altos impostos e desgoverno eram
a tônica do momento. Como a maioria dos coletores de impostos
eram maometanos, os cristãos eram mais penalizados que os
outros. Devido à pressão demográfica, pobreza
do solo, doenças endêmicas, declínio das indústrias
tradicionais e falta de oportunidades econômicas, a emigração
tornou-se a única solução possível para
esta situação. Com o tempo tornou-se comum, em períodos
de difilcudade econômica, a emigração dos homens
das vilas para ganhar dinheiro no exterior e depois mandar fundos
para casa a fim de ajudar familiares e parentes.
Razões Mistas:
As atividades dos agentes de passagens tiveram grande importância
no fomento da emigração. Eram em geral imigrantes
de torna-viagem que discorriam sobre as oportunidades de se ganhar
dinheiro no exterior como mascate. Agiotas também instigaram
a emigração pois isto lhes rendia grandes lucros.
Tanto os agentes de passagens quanto os agiotas atuavam através
dos líderes das aldeias, pagando a estes por cada imigrante
que saísse de sua vila.
Muitos emigraram para escapar às formas tradicionais de
controle social, como por exemplo para não casar com a pessoa
escolhida pela família; casados que fugiam, aventureiros,
anti-sociais, ambiciosos, pessoas contrárias ao governo turco,
etc.
Um relato de missionários nos dá a idéia
de como eram recrutados os imigrantes:
“... O negócio da emigração tornou-se muito
rendoso; o método usado na Alemanha em 1870 é o que
aqui se usa. Um nativo, geralmente um que já esteve na América,
visita a aldeia, faz comícios, descreve o modo maravilhoso
de fazer dinheiro, ensina para onde ir, o que fazer - de fato tudo
o que um emigrante precisa saber. É raro que êle não
consiga um certo número de depósitos para passagens
de navio. Êsse homem pertence a uma longa corrente cujos elos
se encontram por todo o trajeto da Síria até os portos
norte e sul-americanos. De vez em quando, essa cadeia de trabalhadores
manda e recebe avisos para evitar ou dar preferência a êste
ou aquele lugar. Se estiver o indivíduo doente, evitar Nova
York e ir primeiro para o México, depois para o norte, etc.
Sem dúvida é um plano engenhoso para obter representações
favoráveis das companhias de navegação. Neste
momento a corrente é para a Argentina. Poderíamos
falar na messe de ouro colhida por funcionários, agentes
de vapores, barqueiros, etc. nos portos. É um sistema que
resulta em muito sofrimento humano, perturbações,
ciúmes e às vezes crimes. “ (Seventy-second Annual
Report of the Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church
in the United States (New York: Published for the Board, 1907),
pp. 431-432.
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O Movimento Emigratório
A emigração de sírios e libaneses começou
timidamente em alguns povoados nos anos de 1870 a 1880 para, a partir
daí, atingir praticamente todas as aldeias. Em 1890, o movimento
assumiu uma tal proporção que aldeias inteiras emigravam.
Duas foram as rotas emigratórias. A primeira, mais antiga,
tinha como destino o Egito, Sudão e as colônias francesas
e inglesas da África; esta era a rota preferida pelos não
cristãos. A segunda conduzia os emigrantes para as Américas,
Austrália e Nova Zelândia; era para onde se dirigiam
os cristãos.
Os relatórios de missionários de 1891 e 1892 ilustram
a grande onda emigratória destes anos.
“A febre emigratória não apresenta indícios
de diminuir. Chegou a tornar-se uma mania. Tirou das nossas igrejas
alguns dos seus membros mais úteis; muitos dos professores
dão sinais de inquietude. Um analfabeto vai para a América
e no curso de seis meses manda um cheque de $300 ou $400 dólares,
mais do que o salário de um professor ou de um pastor em
mais de dois anos. Durante os meses passados veio para Zahlé
da América uma média de $400 a $500 diariamente. Quase
tudo é usado para pagar velhas divídas, hipotecas,
e para levar outros emigrantes além-mar. Esperamos algum
benefício da influéncia reflexa da emigração.
Dos relatos dos emigrantes só se ouvem louvores irrestritos
à América e às suas instituições...”
(Fifty-fourth Annual Report of the Board of Foreign Missions of
the Presbyterian Church in the United States (New York: Mission
House, 1891), pág. 225.
“... A emigração, como um fermento possante, agita
tôdas as aldeias e povoados do nosso campo. Todo o mundo está
em movimento e ninguém parece disposto a ficar, desde que
possa, de um jeito ou de outro, arranjar dinheiro suficiente para
pagar a viagem. Os sírios modernos parecem rivalizar com
os seus antepassados os fenícios... Há homens, meninos,
mulheres e crianças de Zahlé em tôdas as grandes
cidades do Novo Mundo, na Austrália, e nas ilhas de todos
os mares. A crônica de suas experiências formará
um estranho capítulo na história da Síria moderna.
Atravessaram os Estados Unidos de norte a sul, viajaram por terra
do Rio de Janeiro a Montreal e Quebec, transpuseram o Pacífico
de ilha em ilha em pequenos barcos, e não poucos circunavegaram
o mundo e voltaram para casa via Jerusalém. As cartas que
escrevem, as histórias que narram, e o dinheiro que trazem,
acrescentam ímpeto ao movimento.” (Fifty-fifth Annual Report
of the Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church in the
United States (New York: Mission House, 1892), pp. 250-252, 264-269. |
Por que o Brasil?
Segundo relatos de informantes os primeiros sírios
e libaneses vieram para o Brasil porque não conseguiram visto
de entrada para os Estados Unidos devido ao seu estado de saúde,
analfabetismo ou outras deficiências pessoais. Logo espalhou-se
no Oriente a notícia das dificuldades de entrar nos Estados
Unidos; sírios e libaneses receosos de não preencherem
as condições exigidas para entrar naquele país,
vieram para o Brasil onde não existiam barreiras.
Muitos sírios e libaneses vieram para cá enganados
pelas companhias de navegação que diziam aceitar emigrantes
para a América. Estes emigrantes eram levados para Santos
ou Rio de Janeiro e só quando desembarcavam percebiam que
não estavam na América do Norte.
Muitos vieram chamados pelos parentes que já estavam estabelecidos.
E finalmente muitos vieram porque acreditavam que o país
fosse mais propício a fazer dinheiro do que outros países.
O censo de 1876 aponta o ano de 1871 como sendo a primeira vez
que aparecem sírios e libaneses no Brasil. O censo menciona
três “turcos” na cidade do Rio de Janeiro e no Rio Grande
do Sul. Biografias revelam, ainda, que seus autores estavam no Brasil
no início de 1880. Diante disso o ano de 1871 é aceito
como a data em que os primeiros sírios e libaneses entraram
no Brasil.
A princípio a imigração foi lenta e irregular.
No período de 1871 a 1891 registrou-se no Brasil a entrada
de 156 sírios e libaneses. Esses primeiros imigrantes eram,
na realidade, “escoteiros”. Vinham para sondar o país e determinar
se o imigrante deveria vir para o Brasil ou escolher algum outro
país.
Os relatos de sírios e libaneses indicam que durante a
segunda metade do século XIX e começo do XX, o governo
turco proibiu a emigração, exceto para o Egito. Essa
proibição tornou-se mais rígida por volta de
1900 quando a Turquia se viu envolvida numa série de guerras
coloniais e com os Bálcãs e, necessitada de tropas,
arregimentava todos os jovens em idade militar.
Uma vez liberalizada as leis contra a emigração,
o movimento para o Brasil aumentou. Com a 1ª guerra mundial
o movimento migratório cessa. Passado esse período,
os sírios e libaneses começam novamente a deixar seus
países em decorrência da depressão e da situação
caótica do Levante no pós-guerra.
A onda migratória para o Brasil aumenta, mas é contida
pelo sistema de quotas adotado pelas autoridades brasileiras. Depois,
a 2ª Guerra Mundial pôs fim à imigração.
Desde então, poucos imigrantes têm entrado no Brasil.
Leva-se em conta que a independência da Síria e do
Líbano removeu uma das principais causas da emigração
que era o desejo de fugir da condição de colônia.
Os primeiros sírios e libaneses chegaram em São
Paulo por volta de 1880, via litoral. Sozinhos ou em grupos penetraram
pelo interior com grande quantidade de mercadoria para mascatear.
Vinte anos depois, já conheciam grande parte do Brasil.
Durante os primeiros anos de 1900, três eram os centros
de atração, no Brasil, para o imigrante sírio
e libanês: a Amazônia, Rio de Janeiro e São Paulo.
A Amazônia porque o ciclo da borracha levou o progresso para
a região. Nas principais cidades da bacia amazônica
cresceram colônias comerciais de sírios e libaneses
que vieram para mascatear. Destas cidades espalharam-se por toda
a região. Fizeram fortunas e os antigos mascates, agora ricos,
mudavam-se para o Rio de Janeiro e São Paulo. Com a decadência
da borracha, viraram seus olhos para o Estado de São Paulo,
uma vez que sua economia estava se expandindo devido à florescente
lavoura cafeeira e ao crescimento da rede ferroviária. Os
sírios e libaneses foram mascatear no interior. Outro Estado
que atraiu sírios e libaneses foi Minas Gerais. Formaram,
neste Estado, uma rede de lojas de varejo e assim, em pouco tempo,
dominaram o comércio da região de Minas Gerais.
De 1900 a 1920, milhares de comerciantes sírios e libaneses
do interior do Brasil prosperaram. Houve períodos de depressão
durante os quais muitos faliram, mas seu lugar foi tomado por outros.
Começando como mascates, passaram para o comércio
e depois para o comércio de atacado e finalmente para a indústria.
À medida que aumentavam seu capital, muitos mudaram-se para
São Paulo para viver entre os compatriotas já estabelecidos
e assim participar da vida cultural e social. Outros vinham para
educar os filhos e outros vinham forçados pela mãe
que queriam ver seus filhos casados com jovens do mesmo grupo étnico.
O censo de 1920 enumerou 50.246 sírios e libaneses no Brasil,
38,4% (2/5) destes, no estado de São Paulo.
O censo de 1940 enumerou 48.614 sírios , libaneses e outros
grupos afins com um decréscimo de aproximadamente 1647 pessoas.
Como a imigração cessou depois de 1929 e a colônia
envelheceu, é de admirar que o declínio não
tenha sido ainda maior. A tendência do período entre
1920 e 1940 foi a contínua concentração de
sírios e libaneses em São Paulo. Quase metade (49,3%)
dos sírios e libaneses residentes no Brasil viviam em São
Paulo.
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Filiação Religiosa
Há poucas informações sobre a filiação
religiosa nos censos, porque o ítem sobre religião não
discriminava quanto à nacionalidade. É uma lacuna lamentável,
pois entre os sírios e libaneses a filiação religiosa
confunde-se com a nacionalidade. No Brasil a religião da pessoa
na colônia determina muitas vezes, a sua participação
nas organizações culturais, sociais e políticas.
A religião é ainda, uma das grandes forças divisórias
entre os sírios e os libaneses.
A grande maioria de sírios e libaneses residentes no Brasil
são cristãos e os dois principais ritos entre eles
são os maronitas e os gregos-ortodoxos.
A maioria dos maronitas é libanês. Sua igreja é
filiada à Igreja Católica Romana.
A maioria dos sírios segue a Igreja Greco-Ortodoxa.
Como grupo minoritário, os muçulmanos, no Brasil,
não participam plenamente da vida na colônia; como
não tiveram o êxito financeiro dos cristãos,
ocupam uma posição inferior na escala social.
Os primeiros sírios e libaneses chegaram em São Paulo
por volta de 1880. Não se sabe exatamente quando, embora
os sírios e libaneses contem que em 1885 havia um pequeno
núcleo de mascates trabalhando na praça do mercado.
O almanaque de 1893 para o Estado de São Paulo (Completo
Almanach, Administrativo Commercial, e Profissional do Estado de
São Paulo para 1895 - São Paulo, Ed. Companhia Industrial,
1895), é o primeiro a conter dados sôbre a presença
de sírios e libaneses na região da rua 25 de Março,
registrando seis casas de armarinhos sírias e libanesas e
uma mercearia. Estavam começando a emergir da mascateagem
para o comércio varejista. Em 1901 o número de companhias
sírias e libanesas inscritas no Almanaque subiu para mais
de 500. |
Mobilidade Social dos Sírios e Libaneses
Ao entrar num país, o imigrante é forçado
a lutar para se estabelecer economicamente e conseguir prestígio
tanto no seu grupo étnico como na sociedade em geral. Essa
luta por uma posição social superior pode realizar-se
numa geração, mas, geralmente, em uma família,
estende-se por diversas gerações.
Muitos imigrantes da primeira geração nunca deixam
a ocupação em que estrearam, mas, outros conseguem
elevar-se, estabelecer-se por conta própria e tornar-se um
empresário bem sucedido. Durante longos períodos,
contudo, o imigrante estará concentrado naquelas ocupações
que escolheu ao entrar no país.
A maioria dos imigrantes sírios e libaneses no Brasil constituía-se
de moços solteiros e rapazes das classes inferiores de cidadezinhas
rurais e vilas. Eram pobres e trouxeram muito pouco capital. Ao
desembarcar, tinham que ganhar a vida e a grande maioria dedicou-se
a mascateagem.
Os sírios e libaneses recém-chegados eram equipados
com uma grande caixa de mercadorias como agulhas, alfinetes, linhas,
lãs, pentes, botões, jóias, perfumes baratos
e outras mercadorias facilmente transportáveis e com boa
aceitação pela população rural.
A maioria deles mascateou o tempo necessário para acumular
dinheiro e abrir pequenas lojas de varejo.
Os sírios e libaneses, estimulados pela pobreza e pela
ambição, trabalharam duramente, viveram frugalmente,
e empregaram seus ganhos na expansão de seus negócios.
Entre eles, alcançava-se uma posição social
através da riqueza. Em vista disso, muitos membros da colônia
desejavam melhorar sua condição financeira. A maioria
da jovem geração adquiriu dos pais atitudes de trabalho
assíduo, e aplicação aos negócios. O
comércio e a indústria são suas ocupações
preferidas, as que dão as maiores compensações
econômicas além de garantir prestígio e consideração
social. |
Educação
A educação tem sido, talvez, um dos canais mais
importantes de mobilidade pelos quais os sírios e libaneses
têm subido na escala social. Durante o século XIX a
competição entre as doutrinas religiosas levou à
instauração de sistemas escolares que abrangiam quase
todas as aldeias cristãs do Líbano e da Síria.
Como a maioria dos imigrantes nos primeiros tempos planejava ir
para os Estados Unidos, as escolas das missões norte-americanas
viviam abarrotadas. Muitos dos sírios e libaneses que emigraram
para o Brasil tinham frequentado essas escolas e adquirido uma profunda
confiança nos colégios e nos métodos de ensino
norte-americanos.
Ao chegar ao Brasil, os imigrantes encontraram poucas escolas
públicas. Nos primeiros anos do século XX, um padre
maronita, da colônia, abriu uma escola elementar onde as aulas
eram dadas em árabe. Pouco antes da primeira guerra mundial,
havia três ou quatro escolas primárias fundadas e
mantidas por sírios e libaneses. Fecharam por volta de 1930,
só restando uma. Até a primeira metade de 1950 ela
ainda existia embora estivesse diminuindo o auxílio da colônia.
Tornou-se escola particular como as outras, talvez com maior número
de estudantes de origem sírio-libanesa.
Muitos estudantes maronitas e católicos frequentaram o
Liceu Sagrado Coração de Jesus, dos padres salesianos
próximo a rua 25 de Março.
Outra escola muito procurada era o Colégio Arquidiocesano,
dirigido pelos Irmãos Maristas; na época só
masculina. Situado na Vila Mariana, era frequentado por filhos de
pessoas de classe média e inferior da colônia.
À medida que a colônia enriqueceu ou mudou sua posição
na sociedade, seus filhos passaram a frequentar as escolas mais
ricas.
A preferência por determinadas escolas entre os elementos
mais ricos da colônia baseia-se na crença religiosa,
posição social, condição econômica
e ambições sociais e profissionais dos filhos.
Para as meninas escolhia-se o “Collège des Oiseaux” e o
Colégio Nossa Senhora do Sion.
Para os meninos a preferência era pelo Colégio São
Luiz, o Colégio São Bento e o Colégio Mackenzie,
este protestante. Mais tarde a “American Graded School” e o Colégio
Batista Brasileiro que usam o método americano, foram os
preferidos. |
Política
Na atividade política muitos sírios e libaneses
encontraram um canal de mobilidade social e firmaram sua posição
como profissionais liberais. O ingresso dos sírios e libaneses
na política só se deu depois de 1930 quando já
tinham se tornado uma força econômica de expressão.
Apesar de serem solidários uns com os outros dentro da colônia,
na política a colônia não forma um bloco coeso.
Concluindo, pode-se dizer que em pouco mais de 50 anos, os sírios
e libaneses elevaram-se de seu estado primitivo de imigrantes mascates
a uma posição de relêvo como um dos mais poderosos
e influentes grupos étnicos da cidade de São Paulo,
consolidados na indústria e no comércio. |
Natureza das Instituições
Quanto à família
A grande maioria dos imigrantes libaneses do Brasil vieram de aldeias
rurais. Cada aldeia é uma comunidade bem definida, habitada
por lavradores identificados com ela. Esses lavradores tinham pouca
noção de unidades administrativas como região,
província e nação. O que valia era a família
e a igreja. Estas duas instituições preenchiam a maioria
das necessidades do indivíduo.
Entre os habitantes das aldeias havia 3 grupos familiais patriarcais.
1º grupo-família conjugal (casal e filhos).
2º grupo-família grande que consiste em três
gerações: filho, pai e avô. O chefe é
o avô; é o patriarca. Moram todos na mesma casa. A
família é patriarcal.
3º grupo-família da aldeia; é o grupo de parentes,
abrangendo todas grandes famílias que se dizem descendentes
de um antepassado paterno comum. O grupo de parentes geralmente
reside num bairro específico da aldeia.
Quanto à religião
Tanto na Síria quanto no Líbano, a religião
equivale à nacionalidade. Cada grupo religioso é considerado
uma comunidade separada dentro da estrutura do Estado. O chefe de
cada igreja exerce algumas funções civis além
de controlar as atividades religiosas. Geralmente os habitantes
de uma aldeia pertencem a uma igreja específica. As aldeias
são classificadas como muçulmanas, maronitas, drusas
ou grego-ortodoxas. O vigário da aldeia é o “inman".
Dentro das aldeias greco-ortodoxas, a igreja é perfeitamente
estável, autônoma e totalmente integrada, em todos
os aspectos da vida do povoado. Em São Paulo, a grande maioria
dos sírios e libaneses pertencem a três doutrinas cristãs:
o grego-ortodoxa, o maronita e o católica-romana (estariam
aqui os melquitas - o autor classifica os melquitas como grupos
menores juntamente com os presbiterianos, judeus, muçulmanos
e outros).
A língua da igreja é o árabe. Durante os
serviços religiosos os dois sexos são segregados.
Os homens ocupam a parte anterior da igreja e as mulheres ficam
atrás, atrás de uma tela. (Referindo-se aos maronitas.).
|
Transformações Culturais
Quanto à família
Embora a imigração tivesse debilitado tanto a família
grande como o sistema de parentelas, ambos desempenharam papéis
de relevo no processo migratório e no ajustamento do imigrante
individual no Brasil. Os que desejaram emigrar recebiam uma ajuda
financeira e sua família, que ficava, era tutelada pelos
parentes. Com o tempo, e a melhora na situação financeira,
a família também emigrava. O contínuo movimento
migratório levou ao enfraquecimento do grupo familiar no
país de origem e a consequente perda de influência
dentro de sua aldeia.
Os laços de parentesco no Brasil permaneceram fortes durante
anos, porém, a tendência atual (1950), é para
o enfraquecimento. Este enfraquecimento pode ter suas causas na
dispersão do clã por vários Estados e também
porque atualmente o casamento não se faz somente dentro dos
membros da comunidade.
A família conjugal tornou-se a unidade de parentesco mais
importante no Brasil e sua estrutura ainda é fortemente patriarcal.
Quanto à igreja
Tanto a Greco-Ortodoxa quanto à maronita apesar
de terem sido trazidas pelos imigrantes, foram incapazes de reter
seus membros ou sua posição no Brasil. Com a dispersão
dos imigrantes por vários Estados e cidades do interior,
muitos deles se tornaram católicos, pois não havia
outras igrejas nas suas cidades. Foi somente nas grandes cidades
que se formaram congregações de greco-ortodoxos ou
maronitas.
Quanto à Organização da Comunidade
À medida que a comunidade sírio-libanesa
crescia, organizaram-se várias associações
para desempenhar funções que em seus países
de origem eram tarefas da família ou da aldeia.
Essas funções têm sido cuidar dos necessitados,
sustentar a igreja, desenvolver atividades culturais e intelectuais,
dar um senso de unidade à colônia e representá-la
na sociedade local, além de manter clínicas, hospitais,
orfanatos e asilos.
Quanto à língua
Houve pouca resistência entre os árabes em
substituir o árabe pelo português devido à natureza
de seus negócios, apesar das tentativas em manter a língua
de origem. Muitas das primeiras escolas da colônia usaram
o árabe como língua de instrução.
Por volta de 1930 o governo brasileiro proibiu o uso de língua
estrangeira nos estabelecimentos de ensino e na imprensa.
Os imigrantes sírios e libaneses trabalharam muito para
alcançarem uma posição social, financeira e
cultural no Brasil e seu ajustamento no país está
se processando lentamente mas com uma certa facilidade.
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Conclusões
1 - A grande maioria dos imigrantes sírios
e libaneses no Brasil tem origem na pequena minoria cristã
do Oriente Médio.
2 - A maioria emigrou por motivos econômicos
, apesar de muitos terem vindo para fugir de uma situação
de perseguição religiosa numa sociedade predominantemente
islâmica.
3 - Deixaram a Síria e o Líbano
para escapar da pobreza e acumular dinheiro para um dia retornar.
4 - 1871 é a data de entrada dos primeiros
imigrantes. A onda migratória cresceu no princípio
do século XX. Muitos vieram para o Brasil porque não
conseguiram entrar nos Estados Unidos.
5 - Poucos anos após o desembarque (1871)
os sírios e libaneses penetraram no interior do Brasil como
mascates e depois se estabeleceram em pequenas cidades, com suas
lojas.
6 - Houve três centros de atração:
a) Amazônia no período aúreo da borracha - mais
ou menos 1900.
b) a cidade de São Paulo, em região perto do centro
comercial onde os aluguéis eram mais baixos. Depois da 1ª
Guerra procuram outros bairros como o Ipiranga e a região
da av. Paulista.
c) zona agrícola do sul de Minas Gerais.
7 - A mascateagem foi o meio usado pelo imigrante
para juntar capital.
8 - Após a 2ª Guerra Mundial operou-se
um movimento regular do capital sírio e libanês para
a indústria pesada, mineração, construção
civil e bancos.
9 - Em pouco mais de meio século os sírios
e libaneses passaram de sua primitiva posição de grupo
pobre de imigrantes para um dos mais importantes grupos do comércio,
indústria, política e economia da cidade de São
Paulo.
|
Bibliografia [+]
EMIGRAÇÃO
KNOWLTON, Clark S. - Sírios e Libaneses - Anhambi - s. d. p.
O Livro trata das causas da emigração e da aculturação
dos sírios e libaneses na cidade de São Paulo, tendo,
o autor aqui chegado em 1950.
PANORAMA DA IMIGRAÇÃO ÁRABE
SAFADY, Jamil - Panorama da Imigração Árabe, in
Obras Completas - V. 1 ed, Comercial Safady Ltda. São Paulo,
Brasil, s.d.p. (atualizado até 1949, provavelmente impresso em
1972)
O PAPEL DOS IMIGRANTES ÁRABES NO DESENVOLVIMENTO
DA AMÉRICA LATINA EM GERAL E DO BRASIL EM PARTICULAR
KOUDSI, Sami - O Papel dos Emigrantes Árabes no Desenvolvimento
da América Latina em Geral e do Brasil em Particular. - Conferência
do Dr. Sami Koudsi no Estado dos Emirados Árabes. - (datilografado,
sem data)
|